O fator humano na análise de dados

Você se arrisca?

Medo na hora de tomar decisões podem impedir vitórias

Estamos todos carecas de saber que a mudança é a única certeza que ainda temos nestes tempos incertos. Mesmo assim, lutamos brava e desesperadamente contra a onda renovadora, tentando evitar o inevitável. Muitos até incorporam o discurso da modernização, mas nossas almas humanas, e por isso mesmo covardes, nos impelem para a prática conservadora. Sofremos, procrastinamos, relutamos em deixar para trás nossos velhos hábitos.

Conheço profissionais competentes que apesar de reconhecer racionalmente que suas estratégias não funcionam como antes e que suas situações de mercado exigem soluções radicalmente novas, deixam o tempo passar sem tomar as decisões que precisam. Querem saber por que eles fazem isso? Porque são de carne e osso, como eu e você.

Caminhos inexplorados

Estudos científicos comprovam o que muitos intuem – em situações de incerteza, as pessoas preferem garantir um avanço pequeno a arriscar uma ampla vitória. Estamos mais preocupados em minimizar os riscos de falhas do que em desbravar caminhos inexplorados.

Quer uma prova? Os cientistas Daniel Kanehman e Amos Tversky propuseram a um grupo de pessoas a seguinte questão: “Imagine que vocês são médicos trabalhando em um vilarejo na Ásia e descobrem que 600 pessoas estão com uma doença que pode matá-las. Existem dois tratamentos possíveis. Se vocês escolherem o método A, vão salvar exatamente 200 pessoas. Mas se escolherem o B existe um terço de chance de salvar todas as 600 pessoas e dois terços de não salvar ninguém. Qual tratamento escolheriam?”. A grande maioria dos pesquisados escolheu a opção A.

Para outro grupo de pessoas, foi proposta uma situação semelhante, mas com um final ligeiramente diferente: “Existem dois tratamentos possíveis. Se vocês escolherem o método C, exatamente 400 pessoas vão morrer. Se escolherem o D, existe um terço de chance de ninguém morrer e dois terços de morrer todo mundo. Qual escolheriam?”. Dessa vez, a maior parte escolheu a D.

Instinto ancestral

As duas opções são exatamente iguais. Mas os enunciados diferentes produziram resultados distintos. No primeiro caso, os pesquisados preferiram garantir a vida de 200 pessoas a arriscar perder todo mundo. No segundo, confrontados com a certeza da morte de 400 pessoas, resolveram tentar salvar todos. Por trás de ambas as decisões, entretanto, existe o mesmo instinto ancestral – o da perpetuação da espécie, o que nos tempos modernos pode ser entendido como manutenção do emprego ou garantia de receita para o sustento da família, mesmo que em menor quantidade.

Evitamos o risco e tentamos adiar ao máximo as decisões perigosas. O problema é que hoje em dia não há mais segurança e restam poucas certezas, entre elas a de que tudo passa, tudo sempre passará.

Reproduzido da Revista GOL, n° 30, setembro 2004. p. 82

POST241212 de dez/24

Teoria ou hipótese?

Nessa época em que tanto se fala em ciência para defender pontos de vista pouco científicos, vale relembrar.

Hipótese é a suposição de algo que pode (ou não) ser verdade e que deve ser submetida a testes para verificação de sua validade.

Teoria é uma hipótese que foi testada e aprovada. Na ciência, teorias são hipóteses matematicamente apontadas como a explicação mais plausível (sempre com o erro máximo de 5%), que repetidamente é confirmada em experimentos.

“Nenhuma teoria deve ser considerada provada, não importa quanta evidência haja para apoiá-la; em vez disso, aceitamos uma teoria até que seja refutada. Portanto, embora um milhão e uma observações de ovelhas brancas não possam confirmar a hipótese geral de que todas as ovelhas são brancas, uma única ovelha negra é suficiente para apontá-la como falsa”. – Karl Popper, filósofo.

Ou como brincou, com razão, Roberto Colacioppo, da Anova Consultoria, no LinkedIn: “Nem mesmo podemos afirmar que uma ovelha é branca apenas observando um lado dela”.

POST241205 de dez/24