The Pleasure Of Finding Things

Comentários sobre o livro

Uma leitura interessante para cientistas e não-cientistas.

Uma coletânea de palestras, entrevistas e artigos do Dr. Richard Feynman, ganhador do Nobel de Física de 1965.

Sou fã do Dr. Feynman e, portanto, aceite com reservas meu entusiasmo por algumas de suas posições e “tiradas”. Ele foi um cientista rigoroso, um pesquisador curioso, um ser humano interessante e divertido. Mas, acima de tudo, era um gênio.

A frente de seu tempo, em 1985 Feynman deu uma palestra no Japão na qual descreveu os elementos para o funcionamento do computador quântico, algo que só agora está se tornando realidade.

Além disso, ainda tinha algo de brasileiro. A análise do nosso ensino, feita durante o ano em que deu aulas no curso de engenharia da UFRJ, é perfeita. Se o tivessem ouvido com atenção na época (década de 1950), o Brasil hoje seria outro.

O que é ciência?

Durante a Idade Média havia todos os tipos de ideias malucas, como a de que um pedaço de chifre de rinoceronte aumentaria a potência.  Então foi descoberto um método para separar as ideias – que era tentar uma para ver se funcionava e se não funcionava, para eliminá-la. Este método tornou-se organizado, é claro, em ciência.

Em abril de 1966, Feynman fez um discurso na Associação Nacional de Professores de Ciência (National Science Teachers’ Association), no qual deu a seus colegas professores lições sobre como ensinar seus alunos a pensar como um cientista e como ver o mundo com curiosidade, mente aberta e, acima de tudo, dúvida.  Esta palestra também é uma homenagem à enorme influência que o pai de Feynman – um gerente de vendas – teve na maneira dele ver o mundo. Um exemplo de como seu pai o ajudava a interpretar o mundo:

“As árvores são feitas de ar, principalmente. Quando elas são queimadas, eles voltam ao ar, e no calor flamejante é liberado o calor flamejante do sol que foi usado para converter o ar em árvores, e nas cinzas está o pequeno remanescente da parte que não veio do ar, e, em vez disso, veio da terra sólida”.

Ele também enfatiza a diferença entre saber o nome de algo e saber algo, ou seja, a diferença entre definições e ideias ou conceitos. Algo que nosso sistema de ensino parece não compreender.

Sobre a ciência, ele afirma que de todos os seus muitos valores, o maior deve ser a liberdade de duvidar.

“O conhecimento científico é um conjunto de afirmações com vários graus de certeza – algumas muito inseguras, algumas quase certas, nenhuma absolutamente certa”.

No tópico “Let George Do It.”, Feynman descreve como os trabalhos administrativos da universidade atrapalham o desenvolvimento das pesquisas, motivo pelo qual ele sempre fugia dessas tarefas que outros podiam fazer. É um ponto que nossos gestores de universidades deveriam considerar.

Acho que vivemos em uma era não científica na qual quase todas os toques das comunicações e palavras da televisão, livros e assim por diante não são científicas.  Isso não significa que são ruins, mas não são científicos. Como resultado, há uma quantidade considerável de tirania intelectual em nome da ciência. – Feyman

Ao comentar o dilema ético de aplicar a ciência no desenvolvimento de armas – ele trabalhou no Projeto Manhattan que desenvolveu a bomba atômica – ele mostra seu lado humano e sua insegurança sobre as decisões tomadas e cita:

“A cada homem é dada a chave das portas do céu; a mesma chave abre as portas do inferno.” – provérbio da religião budista

Acredito que esse capítulo seria uma lição valiosa para os professores, não só os de ciências, mas todos os preocupados em capacitar os alunos para aprenderem a aprender. Também daria uma grande contribuição para profissionais como jornalistas e operadores do direito que gostam de afirmar que sustentam seus argumentos na ciência.

Cargo Cult Science

No capítulo Cargo Cult Science: Some Remarks on Science, Pseudoscience, and Learning How to Not Fool Yourself, Feynman oferece exemplos interessantes e um belíssimo curso de ética. Deveria ser lido por todos os profissionais que fazem ciência ou usam o termo para justificar suas posições.

O exemplo mais interessante está disponível, em português, na Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_culto_%C3%A0_carga

Ciência e política

“As visões comunistas são a antítese das científicas, no sentido de que no comunismo as respostas são dadas a todas as questões – políticas e morais – sem discussão e sem dúvida.  O ponto de vista científico é exatamente o oposto disso; ou seja, todas as questões devem ser questionadas e discutidas; devemos discutir tudo – observar as coisas, verificá-las e, assim, mudá-las.  O governo democrático está muito mais próximo dessa ideia, porque há discussão e possibilidade de modificação.  Não se lança o navio em uma direção definida. É verdade que se você tem uma tirania de ideias, para saber exatamente o que tem que ser verdade, você age com muita decisão, e isso parece bom – por um tempo. Mas logo o navio está indo na direção errada, e ninguém mais pode modificar a direção. Então as incertezas da vida em uma democracia são, eu acho, muito mais consistentes com a ciência”. – Feynman

Algumas outras citações

Eu sei que tudo é interessante se você se aprofundar o suficiente.

Para uma tecnologia de sucesso, a realidade deve ter precedência sobre as relações públicas, pois a natureza não pode ser enganada.

Ciência é a crença na ignorância de especialistas.

Acho que a teoria é simplesmente uma maneira de varrer as dificuldades para debaixo do tapete.

O que é incomum sobre bons cientistas é que, enquanto eles estão fazendo o que estão fazendo, eles não estão tão seguros de si mesmos quanto os outros geralmente estão. p. 152

O primeiro princípio é que você não deve se enganar – e você é a pessoa mais fácil de enganar.

Uma das maiores e mais importantes ferramentas da física teórica é a lixeira.

Um livro inspirador que merece ser lido e deglutido com cuidado por aqueles que são ou pensam se tornar cientistas. Servirá de estímulo para uma carreira de felicidade ou para que desista, enquanto há tempo, se poupando da frustração da mediocridade.

O livro

Feynman, Richard. The Pleasure Of Finding Things Out: The Best Short Works of Richard P. Feynman. 1999. Basic Books, 387 Park Avenue South, New York, NY 10016-8810. (inglês)

What Do You Care What Other People Think? Further Adventures of a Curious Character.

Comentários sobre o livro

Capa do livro

O livro tem duas partes bem distintas. A primeira é uma sequência de histórias curtas, independentes, curiosas, humanas e divertidas. É emocionante, conhecer o lado humano do cientista brilhante, humilde e assustadoramente sincero.

Ele conta as influências que o tornaram um cientista, as aventuras e dificuldades da adolescência e sua relação com Arlene, sua primeira mulher e maior amor. As histórias mostram uma pessoa inteligente, sensível, persistente e, principalmente, curiosa, como devem ser todos os cientistas.

A segunda descreve sua participação no comitê presidencial que investigou o acidente com o ônibus espacial Challenger. É muito interessante, tanto pelos aspectos técnicos como pelos políticos. Mostra o impacto de seu comportamento – único membro realmente independente no comitê de investigação – na transparência e na comunicação dos resultados. Tanto que ele conclui o relatório com a frase: “Para uma tecnologia de sucesso, a realidade deve ter precedência sobre as relações públicas, pois a natureza não pode ser enganada”.

Confesso que, embora não saiba a razão, os livros do Feynman me emocionam.

Algumas frases dele no livro:

Aprendi muito cedo a diferença entre saber o nome de algo e saber algo.

Aprendi com minha mãe que as formas mais elevadas de compreensão que podemos alcançar são o riso e a compaixão humana.

Eu disse que não sabia – minha resposta para quase todas as perguntas.

O conhecimento científico é um corpo de afirmações com vários graus de certeza – algumas muito incertas, outras quase certas, mas nenhuma absolutamente certa.

Na ciência você aprende um tipo de integridade e honestidade padrão.

Gosto de um provérbio da religião budista: A cada homem é dada a chave dos portões do céu; a mesma chave abre as portas do inferno.

O que os gregos estão aprendendo na escola é ser intimidados e pensar que ficaram muito abaixo de seus super ancestrais.

Descobri que o que se passa na cabeça de diferentes pessoas quando elas pensam que estão fazendo a mesma coisa – algo tão simples como contar – é diferente para pessoas diferentes.

Aprendi que os pensamentos podem ser tanto visuais quanto verbais.

O livro

Feynman, Richard R. What Do You Care What Other People Think? Further Adventures of a Curious Character. Penguin. 1988.